segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Ler com o Sr. Luís #3

LER EM DEMOCRACIA

Entretanto dá-se o 25 de Abril...

... E é aí que começo a editar a colecção Cadernos Maria da Fonte, onde editei mais de 30 livros.

Teve alguma actividade política durante o PREC?
Não tive envolvimento com nenhum partido, nem antes, nem depois do 25 de Abril. Só fiz parte das eleições do Humberto Delgado. É verdade que passaram por cá todos os partidos depois do 25 de Abril: o MDP/CDE, onde o meu grande amigo Padre Felicidade Alves era um dos presidentes. O PS, o PSD, o CDS, e essas coisas todas. Eu nunca me filiei em nenhum partido, mas não houve nenhum ano em que não fosse votar. Sou democrata 100%, mas como tinha uma casa comercial, não queria estar conotado com nenhum partido. Mas não há dúvida que eu fui conotado com o PCP a seguir ao 25 de Abril.

Teve alguns problemas políticos?
Não. Não tive nenhum problema.

Mas chegou a editar livros por exemplo do Varela Gomes...
Sim, é verdade... Quando se deu o 25 de Abril eu enchi as montras com os autos de apreensão. Fiz as contas e tinha mais de 400 contos em livros apreendidos, o que era muito dinheiro. Uma noite, ouvi umas pessoas a comentarem os autos: “eu não te disse que o sr. Luís era comunista?”. Fui conotado e editei várias coisas de tipos que eram da oposição, entre elas o Varela Gomes. Depois editei vários livros do Lenine, do Estaline. Era o que se vendia naquela altura. Cheguei a vender 50.000 exemplares do livro “48 Anos de Fascismo”, em 4 ou 5 meses. O “Tornar-se Pessoas Livres”, do Padre Felicidade Alves, que era ele próprio que editava, vendi 25.000. A seguir ao 25 de Abril apareceu tudo o que estava proibido. Foi a altura em que se vendeu mais livros.

Quanto tempo durou esse período?
Durante 75, 76... Princípios de 77.

Quando é que deixou de editar? E porquê?
Já nos anos 80, o meu filho acabou o curso e veio trabalhar comigo durante dois anos. Mas eu achava que isto não era vida para ele. Entretanto, o Guilherme Valente veio-me convidar para sócio da Gradiva. Eu não aceitei, porque tenho uma concepção de livreiro muito minha, e quantos mais sócios, mais ideias... Mas sugeri o meu filho e a minha proposta foi aceite. A partir desse momento, se me aparecesse alguém com uma proposta, eu encaminhava-o para a Gradiva. Além disso, esta minha opção também teve a ver com o facto de eu preferir a actividade de livreiro à de editor. Uma editora consome muito tempo e eu prefiro estar no meio dos livros.

Ainda tem à venda os livros que editou?
Um ou outro. O resto está tudo esgotado.

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